Se eu tava com alguma dúvida quanto ao porque de querer assistir Fellini 8 1/2 hoje, um dos repórteres xinga o diretor de histérico logo antes dele se matar na conferência de imprensa no final.
Toda vez que eu assisto esse filme acho uma coisa nova e gosto mais das velhas.
"Você é livre, só precisa aprender a escolher"
Pela primeira vez eu achei muito desagradável a cena em que ele imagina a casa cheia de mulheres servindo ele, na qual a regra é que as mais velhas vão para o porão para viver na memória.
Achei coisa pra caralho desagradável, o jeito que ele trata a esposa, o jeito que ele trata a amante, o jeito que ele trata a Claudia.
O foda é que pro Fellini dentro do filme não é assim, ele acha que tá fazendo uma grande ação, e as mulheres ficam atrapalhando ele com coisa pequena. Seria melhor se elas tivessem a cabeça aberta que nem a dele e fossem amigas para que ele pudesse passar a grande mensagem em paz.
Ele manda construir toda a estrutura, mas quando tem que preencher o filme, ele não tem mensagem nenhuma, e entra em crise.
Só que pro Fellini de verdade o personagem não tá lá pra você ter dó dele, pelo contrário, ele não ama nenhuma mulher e fez o filme mais como utilidade do que como forma de pedir perdão. E olha que ele fala isso.
Mas até eu me desapegar do hábito de entender um filme da maneira heróica, já foram mais de dez vezes que eu vi esse.
A utilidade do filme é oferecer a realidade do que se passa na imaginação do Fellini. Ponto.
Porque pensa, que filme ou que qualquer coisa no mundo revela a verdade, as coisas nojentas que se passam na nossa cabeça? O que a gente realmente quer das pessoas?
Filme mostra sempre o que a gente gostaria de pensar, o que a gente quer que as pessoas pensem que a gente pensa, o que a gente acha que as pessoas pensam, e, principalmente, o que a gente queria que as outras pessoas pensassem.
E o filho da puta do Fellini, com os filmes muito loucos dele, nos faz o favor de mostrar que não há realidade maior do que o que a gente imagina.
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2 comentários:
bom, acho que chegou a hora de confessar uma coisa que venho escondendo há tempos: nunca fui com a cara dos filmes do fellini. preconceito puro, haja visto que nunca assisti. um amigo meu me disse: "quem não gosta de fellini não gosta de cinema". mesmo assim não assisti. mas depois que uma amiga fez um comentário no meu blog falando do 8 e 1/2 e agora você aqui com esse post e ainda o amarcord no ibirapuera, eu resolvi: vou tirar o atraso. assistirei o 8 1/2 em dvd e depois vou reler seu post. domingo vou ver amacord no parque (de repente a gente se liga por lá e se encontra). pronto, estou decidido: viva fellini! beijos.
Acabei de ver o 8 e 1/2. Adorei. Acho seu post muito coerente. Acho que eu não conseguiria escrever ou comentar tão bem esse filme logo depois de assisti-lo pela primeira vez (talvez depois de ver várias vezes consiga tirar conclusões como as que você tirou). Mas uma coisa já dá pra concordar de cara. É com a sua conclusão: a força da realidade imaginada. Acho que você acertou na veia. Bom, já copiei o filme. Agora é esperar uma oportunidade de re-assisti-lo e reler seu post (acho que vai ser um ciclo vicioso ou virtuoso, sei lá. rs.) Grande abraço.
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